sexta-feira, 2 de outubro de 2009

A História do Nosso Futebol

Eram uns homens muito sérios, de bigodes enormes e calções largos. Embora morassem no Brasil – mais exatamente em São Paulo – só falavam em inglês. Chamavam o goleiro de Goalkeeper, a bola de ball e o novo jogo que haviam acabado de importar da Inglaterra tinha o nome de foot-ball.

Foi com eles, no final do século passado, que o futebol começou em nosso país. Atualmente, essa é não apenas a maior paixão dos brasileiros como também o esporte mais popular do mundo inteiro.

Naquela época, porém, o futebol não passava de um estranho passatempo de pessoas ricas e elegantes.

Quem visse os jogadores correndo no campo de Várzea do Carmo, na capital paulista, onde em abril de 1895 disputaram a histórica partida inaugural (São Paulo Rallway 4 x 2 Companhia de Gás), sem dúvida acharia graça.

“ - Olha aí!” – exclamaria um expectador sem entender nada. “- Veja se tem cabimento... 22 marmanjos brigando por uma bola!”

“- Por que não dão uma bola para cada um?” – talves sugerisse outro “- Assim eles parariam de brigar!”

Exatamente um ano antes dessa cena, Charles Miller desembarcava no porto de Santos (SP). Estudante paulista filho de ingleses, ele voltava da terra de seus pais, onde fora estudar.

Na sua bagagem Charles trazia duas bolas de futebol e também as regras do jogo que aprendera na Inglaterra. Ele chegara a praticá-lo na equipe do Shouthampton – que por sinal existe até hoje – e achou interessante divulgá-lo por aqui.

Charles Miller teve um papel tão importante para a criação do futebol brasileiro que a praça em frente ao estádio do Pacaembú, em São Paulo, foi batizada com o seu nome. Graças a ele, o jogo em que 22 marmanjos brigavam por uma bola acabou virando um sucesso.

E logo surgiram os primeiros clubes em São Paulo, a Associação Atlética Mackenzie, o Internacional, o Germânia e o São Paulo Athletic. No Rio de Janeiro, o Fluminense.

Só que o começo esses times, ligados a colônias estrangeiras (inglesa e alemã principalmente), só aceitavam jogadores da chamada sociedade. Isto é, rapazes, de boas famílias, brancos, cheios de dinheiro, alunos dos melhores colégios. Se vivesse naquela época, Pelé, por ser afrodescendente e pobre, não conseguiria vaga em nenhuma equipe e seu talento jamais despontaria.

Mas aí aconteceu uma coisa muito interessante. Meninos e marmanjos de todas as classes sociais não demoraram em se entusiasmar com o futebol. Como não podiam jogá-lo nos clubes fechados, improvisavam campinhos nas várzeas que rodeavam as cidades (daí a expressão “futebol de várzea”). E justamente nesses campinhos surgiram ótimos jogadores, cuja fama foi se espalhando.

Enquanto isso os clubes das colônias estrangeira já estavam organizando seus primeiros campeonatos, que se tornavam cada vez mais disputados. E quando perceberam a necessidade de se reforçarem , tratavam de convidar alguns jogadores daqueles campinhos de várzea.

Apesar disso, não se eliminava o preconceito racial. Quer dizer: pobre podia jogar, desde que fosse branco. A história foi mudando lá por 1910, com o aparecimento de um moço cujo pai era alemão e a mãe era uma lavadeira negra. Estamos falando do fantástico mulato Arthur Friedenreich, considerado o Pelé de sua época.

Ele foi o primeiro craque de verdade do Brasil. Graças ao seu gol contra o Uruguai, a seleção brasileira conquistou o campeonato sul-americano de 1919, realizado no Rio de Janeiro.

Com nossa vitória - e com as proezas de Fried, como os torcedores o tratavam - o futebol foi virando uma mania nacional. Ele se organizou com o aparecimento de federações (que reuniam os clubes do mesmo estado) e da CBD (Confederação Brasileira de Desportos), atual CBF (Confederação Brasileira de Futebol).

Como os torcedores já pagavam ingresso e os jogadores queriam ganhar dinheiro, em 1933 é instituido o profissionalismo. O futebol então torna-se um bom negócio, embora nem sempre administrado pelos dirigentes. Em consequência disso são construídos grandes estádios: o São Januário, de propriedade do Vasco da Gama, no Rio de Janeiro; o Pacaembú, em São Paulo; e finalmente o gigantesco Maracanã, também no Rio de Janeiro, para a realização da Copa do Mundo de 1950.

O futebol brasileiro não parou mais de crescer, até chegar a ser o que é hoje: melhor de todos, um fato reconhecido até pelos nossos adversários dos cinco continentes.

Como se pode ver o mundo mudou muito. Os craques já não são mais os homens de cara séria, não usam bigodões – e jogam e falam na língua que todos nós entendemos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário